De imediato, para o meu sabor, talvez tivesse preferência por uma louçaria quebrada colorida e o serviço de mesa, em seu interior, com matiz que não tomasse partido nem a favor nem contra, refletindo, assim, alguma coisa do cariz pacificado ou calmoso da cerâmica de Nicia Braga.

Contudo, olhar mais demorado, a realidade do mundo instalado seria mais embaraçoso: se na mesa enxergamos a vida domesticada, valendo existência familiar tranquila e colorida, o lustre-louçaria, embora não emitindo luminosidade, mas ecoando a claridade do spot, sugere uma possível rebelião feminina perante a posição da mulher nesta propriíssima vida doméstica instalada pela autora – rebelião furiosa e ameaçadora, afinal, pratos quebrados cortam a carne. A cor cinza/areia deste lustre-louça, então, traduziria com justeza a aspereza dessa legítima insurgência.

Imagino,  também que este intricado conjunto arraste atenção e curiosidade; atenção para a objetividade material instalada e curiosidade sobre a autora – desejo de saber feminino, naturalmente; afinal, homem nenhum gosta de pratos quebrados sobre o seu pescoço e as mulheres, ao contrário, alcançariam solidariedade imediata para com este corpo vivo de artefatos e mesa posta. Júlio Ambrozio, Setembro 2015