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LEVEZA COPASA

Galeria de Arte Copasa
Belo Horizonte – MG
Outubro/2017

fotos: Carol Reis

Uma proposta de Leveza

 

Siderurgia e cerâmica é um fragmento desta nova mostra de Nicia Braga – a forma pura do barro sugerindo colóquio tortuoso com o arame abstrato. A despeito de a forma construir a argamassa, ou a unidade, para os dois diferentes materiais, o que escapa pelas bordas, precisamente, é certa espécie de curioso contraste, quase ia dizendo, um paradoxo abespinhado. Dir-se-ia que, embora o fio-máquina propicie arames macios ou com mais dureza, o processo produtivo de um não se confunde com o do outro. É neste preciso contraste, indústria e cerâmica, que uma possível ironia ocorre: a forma cerâmica afirmaria sua simbiose com a parede-suporte; associação íntima cujo efeito ótico seria asseverar a dispensabilidade desta forma argilosa e, ao mesmo tempo, expor a lembrança vigorosa e superior da maciez produtiva do barro em relação ao processo inelástico e ferruginoso do arame. Embora este, tal como exposto, efetivado a partir de fio-máquina, possa alcançar alguma ductilidade.

Se a forma cerâmica/arame, fixada na parede, estabelece a referida antinomia assanhada, os sete conjuntos de artefatos – folhas de porcelana suportadas por base de ferro – convidam aos curiosos, ou mesmo enxeridos, dispor de essas lascas de porcelanas de acordo com o seu pensamento ou fado. Conjunto móbil de lâminas. Insisto: móbil e não móbile; afinal, não é o ar, e nem mesmo o vento, o que constitui a substância formal da ceramista Nicia Braga, mas o solo e, sobretudo, as sombras – cuja existência propicia a metáfora mineira das montanhas.

Ainda que a abstração seja o exercício grandiloquente desta mostra, é de se notar a figurativa piscada de olhos para usos do cotidiano: vasos, moringas, potes, todos confirmando o caráter pacificado e límpido – deduzido pela razão – da inteira obra desta ceramista, verdadeiramente, nascida neste estado mineiro. Prova real dessa última observação, por fim, é a coleção bem disposta de certa sorte de linha de ervilhas, valendo sugerir a presença essencial que pratos e garrafaria e conversa – aquecidos no interior da cozinha – têm na existência de Minas e da mineira Nicia Braga. Júlio Ambrozio, Setembro 2017

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